Terminaçom -vel

16-12-2015

CONSULTA:

Pergunto-me, na minha ignoráncia das questons etimológicas e ortográficas, por que é que os adjetivos derivados de -bilis latino se escrevem com v na ortografia galego-portuguesa. Quer dizer: por que horrível e nom horríbel. Obrigado!

Casdeiro

RESPOSTA DA COMISSOM LINGÜÍSTICA:

A ortografia galego-portuguesa di-se que é histórico-etimológica, porque a sua fundamentaçom é dupla: por um lado, ela baseia-se, como norma, na etimologia, polo que, na maior parte dos casos, o modo de escrever hoje as palavras reflete a grafia que as suas antecessoras tinham (em latim), mas, por outro lado, a grafia de algumhas palavras galego-portuguesas atuais aparta-se da grafia primitiva, presente no étimo latino, por causa de alteraçons sofridas ao longo da história da língua vernácula. Este é, de facto, o caso do sufixo -´vel, morfema que, proveniente do étimo latino -bilis, escrito com bê, se escreve em galego-português com uvê (pronunciado hoje como [v] nos padrons lusitano e brasileiro, e como [b] no padrom galego), por tal elemento ter sofrido tal mutaçom na fase medieval da língua (já no séc. XIII se abonam as formas estável e móvel, e no século XIV, durável e possível).

Categoria(s): Fonética, Ortografia
Chuza!
De novo sobre castelhano e castelao

29-11-2015

Link: http://agal-gz.org/blogues/index.php/consultorio/?title=castelhano-e-castelao&more=1&c=1&tb=1&pb=1

CONSULTA:

Por que na normativa nom se utiliza a forma castelám para designar a língua originada em Castela, cando a palavra é usada em certas zonas da Galiza? Já sei que há umha palavra que se escreve igual mas tem outro significado, mas esta tem outras variantes (casteleiro). Quer dizer, poderiam usar-se as duas formas, e no contexto de que o senhor do castelo seja de origem castelá, escrever casteleiro como substantivo.

RESPOSTA DA COMISSOM LINGÜÍSTICA:

Transcrevemos a seguir um trecho de O Modelo Lexical Galego, da Comissom Lingüística da AGAL (2012: 84-85), onde se trata a questom posta polo amável consulente:

Os castelhanismos aditivos coordenados enriquecem o léxico galego-português ao estabelecerem em relaçom com certas palavras patrimoniais (as quais eles nom venhem a substituir, mas a complementar) umha matizaçom ou especializaçom semántica útil, polo que também se revela de grande interesse proceder a incorporá-los ao léxico galego normativo. Assim, por exemplo, de harmonia com os padrons lusitano e brasileiro, em galego utilizará-se, por um lado, a voz patrimonial castelao (séc. XIII), sujeita a substituiçom na atual Galiza, para denotar ?o senhor de um castelo?, e, por outro lado, a voz de origem castelhana castelhano (incorporada ao luso-brasileiro no séc. XV) para denotar ?o natural de Castela? ou ?a língua de Castela?.

Outros casos similares som os seguintes:


A este trecho, também acrescentamos, como resposta ao nosso amável consulente, o facto de a voz casteleiro -a, de natureza adjetival, designar, nom o senhor de um castelo, mas ?relativo a castelo?.

Categoria(s): Léxico
Chuza!
Cenoira ou cenoura; lavadoiro ou lavadouro?

29-11-2015

Outro exemplo da histórica alternáncia dos ditongos oi (oiro) e ou (ouro) em Portugal, ainda hoje instáveis

CONSULTA:

Como deveríamos dizer na língua culta, cenoura e lavadoiro, cenoira e lavadoiro, ou cenoura e lavadouro? Muito obrigado!

RESPOSTA DA COMISSOM LINGÜÍSTICA:

Na variedade galega do galego-português, deve utilizar-se a forma lavadoiro e, de preferência, cenoura, ainda que também seja correta a variante cenoira. Para justificar estas escolhas, temos de considerar as alternativas lavadoiro ~ lavadouro, por um lado, e cenoira ~ cenoura, por outro.

Quanto ao primeiro caso, diga-se que, como derivado patrimonial da terminaçom latina ?orius (-oria, -orium), presente em adjetivos, ou como derivado de nomes latinos provindos de particípios de futuro (tipo nasciturus, -a, -um ?o que irá nascer?), surge em galego-português, entre os séc. XIII e XV, o sufixo ?doiro, que forma substantivos que indicam o local onde se realiza a açom expressa polo verbo (ex.: lavadoiro ?local onde se lava (roupa)?) ou adjetivos que indicam a noçom de particípio de futuro (ex.: casadoiro ?que está na idade de casar, que casará?). Posteriormente ao séc. XV, nas variedades lusitana e brasileira da língua, mas nom, em geral, na galega, o sufixo ?doiro passa a ser substituído, em larga medida, pola forma ?douro. Portanto, na variedade galega do galego-português, temos hoje, em geral, unicamente -doiro (exceto no extremo SO da Galiza, onde si se produziu a passagem de -doiro para -douro), enquanto que em lusitano e em brasileiro predomina ?douro sobre ?doiro (em paralelo com coiro [Gz] / couro [Pt+Br]): ancoradoiro, bebedoiro, casadoiro, comedoiro, embarcadoiro, escondedoiro, fervedoiro, matadoiro, miradoiro, paradoiro, respiradoiro, sumidoiro, varredoiro, vindoiro? e, também, lavadoiro.

Já o caso de cenoura ~ cenoira é diferente, porque o étimo é, agora, árabe, e porque a naturalizaçom da palavra em galego-português só se produz no século XV ou XVI, quando o galego inicia os Séculos Obscuros e já nom tem capacidade efetiva para incorporar neologismos de forma autónoma. Portanto, a denominaçom vernácula da planta Daucus carota temos de a habilitar agora em galego por via erudita, e, naturalmente, de harmonia com o lusitano e com o brasileiro, e a forma mais prática de o fazermos é adotando em galego a variante principal, mais habitual, em lusitano e em brasileiro, que é cenoura (embora a variante cenoira também seja admitida).

Categoria(s): Léxico
Chuza!
Galhas, galhos e bugalhos

29-11-2015

Galho de carvalho cheio de bugalhos, também conhecidos por cecídios ou (nozes de) galhas na linguagem especializada

CONSULTA:

Como se diria em galego o port. galha, ing. gall, cast. agalla (formaçom grossa nas raízes das plantas produzida por parasitas), aposta a bugalho, excrescência das folhas produzida também por parasitas, tendo em conta que galha em galego comum da Galiza é ?ramo, póla?. Obrigado!

RESPOSTA DA COMISSOM LINGÜÍSTICA:

Para denominar as neoformaçons de tecido vegetal que apresentam aspeto variado, mas freqüentemente esférico e engrossado, causadas pola açom de organismos parasitas, como bactérias, fungos, insetos, etc., o galego-português dispom de um termo de especialidade de origem grega: cecídio. Para designar em concreto o cecídio globular induzido por parasitas no carvalho, pode também utilizar-se o vocábulo culto noz de galha, simplificável em galha, e o vocábulo popular (supradialetal) bugalho (galha também se pode aplicar, informalmente, a qualquer cecídio). Em todo o caso, no modelo de galego culto e especializado que patrocina a Comissom Lingüística da AGAL, o uso da voz galha com o sentido de ?cecídio (do carvalho)? nom colide com galha ?ramo de árvore?, dado que, nesse modelo lexical culto, galha ?ramo de árvore? é conceituado, de harmonia com os padrons lexicais lusitano e brasileiro, como elemento dialetal, frente ao supradialetal galho ?ramo de árvore?.

Categoria(s): Léxico
Chuza!
O uvê de haver

15-10-2015

CONSULTA:

Cal é a causa etimológica de que haver se escreva com v?

RESPOSTA DA COMISSOM LINGÜÍSTICA:

A ortografia galego-portuguesa di-se que é histórico-etimológica, porque a sua fundamentaçom é dupla: por um lado, ela baseia-se, como norma, na etimologia, polo que, na maior parte dos casos, o modo de escrever hoje as palavras reflete a grafia que as suas antecessoras tinham (em latim), mas, por outro lado, a grafia de algumhas palavras galego-portuguesas atuais aparta-se da grafia primitiva, presente no étimo latino, por causa de alteraçons sofridas ao longo da história da língua vernácula. Este é, de facto, o caso de haver, voz que, proveniente do étimo latino habere, escrito com bê, se escreve em galego-português com uvê (pronunciado hoje como [v] nos padrons lusitano e brasileiro, e como [b] no padrom galego), por a palavra ter sofrido tal mutaçom na fase medieval da língua (já em 1012 se abona a forma avemus, e no século XIII, haver).

Categoria(s): Fonética
Chuza!

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