leiam que só vos faz bem

18-01-2007

PERSONAGENS IMAGINÁRIAS

leiam que só vos faz bem

Pediram-me para falar do Pisado, que antes de me conhecer andava de patins na marginal a fazer sinais às garotas, claro, todas cima de idades aceitáveis, assim tipo às de vinte anitos, e que bebia cerveja de palhinha e era assim um bocado a puxar para o apaneleirado, e eu disse-lhes que falava do Pisado com todo o prazer, era aliás honroso estar num sítio destes a poder tergiversar sobre alguém que prezo tanto, e aí eu pensei (e perguntei), Qual Pisado? O Pisado lá de baixo, casado com a minha prima em segundo grau, a Anafada José, que me remenda o cueiro das calças quando está roto ou que me leva o meu Coçado José à escola, que ele não pode apanhar frio pois é bastante diabético, sempre adorei o miúdo mas aquelas espinhas derivado de ter pouco açúcar no sangue sempre, como dizer, me deu vómitos, mas isso só das primeiras semanas, porque desde então me dá vómitos e diarreias quando o vejo, e vejo-o bastantes vezes ao dia, portanto poderão imaginar o estado da minha carpete que aquilo já nem sei o que são cenas de caça ou apenas pedaços do meu almoço, e a minha mulher, a Porca José que me ajuda muito na minha vida que é um anjo porque ela sabe que eu lhe sou infiel e não me trata mal, apesar de quando ela descobriu que eu era infiel com a melhor amiga ela nem reagiu assim tão mal mas depois ela passou-se quando lhe contei das minhas escapadelas com a cadela da melhor amiga, que se chama, já agora, Bernardete, a cadela, não a amiga, essa não sei como se chama, acho que é dentista, ou será mesmo professora de francês, é perguntar-lhe, só sei que é bem melhor na cama que a prima, que usa perfume e toma banho, mas não queria falar da prima, eu queria era dizer-vos que a melhor amiga da minha mulher estava em cima de mim quando a minha mulher nos descobriu, dentro do armário da arrecadação das ferramentas do jardim de escola onde ela ou dá aulas de francês ou é dentista, não sei porque a minha mulher saiu da festa e nos encontrou lá naquela badalhoqueira, porque isto de ter relações numa arrecadação não é para gente como eu, é para gente do campo que prefere dormir com os porcos do que com vacas, e eu por acaso disse-lhe que aquela posição não combinava com o sítio, e ela discordou de mim mas a minha mulher acabou por concordar, que aquilo era descabido e, ainda para mais, tinha correntes de ar e que nos podíamos constipar, e ela sabe tão bem como sou sensível, é assim uma espécie de constipação espontânea quando estou perto de animais do campo ou tenho sexo em arrecadações, já o meu avô e bisavô eram assim, ficavam logo com pingo no nariz só de ouvir falar nisso, e tirando a cunhada da minha avó materna, todos na nossa família sofremos de verborreia, que quando começamos a falar não nos calamos até que nos mandem calar, e como somos uma família muito educada nunca mandamos calar ninguém, e assim para evitarmos tamanha questão preferimos não falar, o que nos tornou uma família muito comunicativa em termos corporais, que quando queremos expressar algo apenas usamos o corpo, e quando por exemplo queremos sexo apenas saltamos para cima da referida pessoa/animal/objecto inanimado e lhe mostramos a nossa vontade, um nosso antepassado, acho que era meu bisavô, chegou mesmo a ser um dos maiores oradores na Assembleia da República apesar de ter passado grande parte da sua vida sem dizer palavra, acho que desistiu de se expressar por palavras aos cinco anos de idade para apenas falar no dia da sua morte, para dizer alguma coisa como Sai-me daí que me pisas a algália, foi sempre o orgulho da família por ter deixado de falar mais cedo que todos os outros, mas temos outros motivos de orgulho na família, como o meu tio Enfático José que foi condecorado com a Grande Cruz da Liberdade pelos seus serviços no exército, era lá operador de rádio, ou o irmão do meu tetratetratetravô, Bastardo José, que anunciava os condenados à morte nas feiras de todo o distrito, mas isso era antigamente, tempo de filmes mudos e em que as mulheres não falavam, agora falam é demais, têm liberdades e tudo, a minha mulher até a deixo sair de casa aos domingos e só no primeiro de cada mês, que é para não a habituar mal, obviamente que ela sai só comigo e só de madrugada, e deixo-a com a trela presa a uma tampa de esgoto à porta dos prostíbulos ou estábulos, porque ela não quer que eu a traia mas assim com putas ou vacas já está bem, ao menos não fodes ninguém da família ou alguém de bem, eu falo muito mas trato-a bem é demais, já vai para alguns meses que a deixo comer à mesa, claro que à mesa é uma forma de expressão, é uma tábua que ela pôs entre a pocilga e a fossa que até está bem arranjadinha, que eu disse, Que?é isso duma mulher minha comer no chão, Ná, Isso acaba já aqui e já agora que eu sou um marido a sério, e então agora ela vem servir-nos na sala de jantar a mim e à minha filhinha querida Ranhosa José que come por baixo da mesa e debaixo dos meus pés e o meu querubim Coçado José e depois a minha mulher pega na comida que sobra e dá aos porcos, e a comida que os porcos não querem ela pode comer à vontade, que isso eu assegurei-lhe no dia em que a pedi em casamento, que Mulher minha a comer porcarias?, Não!, Mulher minha só do melhor, e ela achava, pobre coitada, que eu lhe ia dar para comer assim insectos ou outras imundices quaisquer, e eu disse-lhe ao pai, que quando me casasse era para tratar bem a mulher, que eu sou um homem moderno e essas coisas medievais de ela ter de usar grilhetas ou de ter de vergastar quando não cumprisse com a sua obrigação não era para mim, não, por mim ela poderia usar mesmo uma corda ao pescoço para não fugir de casa e quanto à auto-flagelação, eu não impunha qualquer tipo de chibata ou chicote, ela poderia escolher à vontade o instrumento, e o pai dela ficou tão contente que me quis abraçar, mas ao invés mandou a mulher, minha futura sogra, abraçar-me, que lhe custou pois as grilhetas estavam muito apertadas, e então ele disse-me que era um homem velho, agarrado às tradições, e que apesar disso quando casou não deu à mulher o tradicional enxerto de porrada mas apenas uma joelhada nos dentes e dois murros na barriga, assim por baixo, porque, afinal, gostava dela, mas nunca pensou que poderia ser mais liberal com ela porque ela poderia não se habituar bem à ideia de tanta liberdade, pensou mesmo uma vez ir libertá-la da jaula que têm pendurada da varanda da frente para ser ela a servir uns convidados, mas desistiu quando os amigos lhe disseram das jaulas onde guardavam as mulheres, com picos e tudo, e teve medo que os amigos notassem o carinho com que lhe batia, mas isso era antigamente, agora isto das mulheres é bem diferente, agora podemos mesmo apanhar uma multa por lhes darmos uma cotovelada nos queixos, já não é como antes, mas queria eu falar-vos do Pisado, que agora já nem sei, que ele pode ser o gajo sobrinho do meu vendedor de armas, que eu acho que já lá o vi na loja a matar um rato com um alicate ou qualquer coisa assim, e é preciso ser-se uma pessoa sádica para tratar dessa maneira um bicho, que eu antes ia lá muito para comprar uma soqueira ou algo assim para esmurrar a cara da minha Porca José quando ela se porta mal, mas agora já quase lá não vou, é preciso licença para porte de açoitador, que ainda para mais é preciso pagar para a ter e não vou pagar para que me ensinem a bater na minha Porca José, que lhe bato desde o dia que a conheci e, se ainda estamos casados, é porque nunca deixei de lhe bater bem, que ela vem ter comigo, quando lhe deixo a jaula aberta em certas noites, digo que ela vem ter comigo já com a tábua com os pregos na mão para que lhe bata enquanto a violo, e ela gosta tanto que a insulte, que mais ninguém no bairro insulta as mulheres como a insulto a ela, que não são assim insultos avulsos mas caralhadas de primeira ordem, não é cá Minha puta ordinária nem nenhuma dessas ordinarices, não, eu a ela trato-a bem, mimo-a com bombons como Anda cá que te desfaço sua pomba manca, ou Arrancava-te essas mamas com um bisturi, que eu mulheres respeito-as, não é como certos idiotas que andam por aí, que eu quando bato na minha mulher obrigo os meus filhos a ver, que eu quero que eles aprendam, mando o Coçado José largar a Playstation e a Ranhosa José largar a limpeza do esterco de vaca e pôr-se de cócoras para que o irmão se possa sentar sobre ela, e quando algum dos dois se queixa de ter levado com sangue no olho ou qualquer outra insignificância eu mando-os estar calados que as tradições são para se manter porque o que seria de nós sem as tradições, e espero que os dois se casem bem, o Coçado José com uma mulher boa e rica que se deixe bater sem lamúrias, mas para a minha filha quero apenas o melhor dos genros, e aproveito para anunciar que a minha Ranhosa José não tem ainda noivo, e digo-vos que apesar dos seus sete anos chupa como uma adolescente, que muitas das vezes deixo-a chupar-me enquanto bato na mãe, eu não ia pô-la a foder assim tão novinha, que não sou um pai desnaturado, mas deixo o irmão fodê-la no cu as vezes que ele quiser, que eu nunca quis que filho meu chegasse aos dez anos sem ter fodido, que homem quer-se é rijo de ver, e quando ele se cansa da irmã, que às vezes acontece que ele ainda é novo e perde o fôlego muito facilmente, e aí eu digo-lhe para foder a mãe que eu já a amaciei com pancada e é mais dócil, e é a foder que vejo que somos uma família feliz, claro que à minha Porca José tenho de lhe bater com o pau dos pregos quando começa a gostar que o filho a foda, que isto de foder a família é só para lhe ensinar, não é para gostar, e eu gosto tanto destas reuniões, e depois até vou mais contente para o trabalho, pois é verdade eu nem contei o que faço, sou gestor num banco, e gosto da estabilidade familiar que a minha Porca José e os meus filhotes me dão, que se não fosse por eles eu estava era no mau caminho, e recentemente tornei-me o porta-voz do grupo, que vendo a tradição familiar, me enche de orgulho, que nós na nossa família nunca deixamos de dar o nosso melhor enquanto profissionais nem deixamos de espancar as nossas mulheres, isto apesar de ter tido um tio que tratava bem a mulher e a filha, mas isso são águas passadas que o degolámos à frente dos filhos para eles aprenderem como se gere o agregado familiar, e a mulher casámo-la com outro, e ela agora está muito feliz, o marido bate-lhe dia sim dia não, e então o Pisado, só se for o talhante cá do bairro que tem um filho com um primo que se chama Alternativo mas que conhece um tal de Pisado, mas, sinceramente, não imagino quem seja esse Pisado, talvez a minha mulher o conheça, Ó Porca José larga lá essa piaçaba e anda cá dizer a estes senhores quem é o Pisado

(inédito)

BLOGADO ?S 06:16:46

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