Não tenho mais que querer

23-05-07

PROJETOS

Não tenho mais que querer

Tenho apenas como certo que mais difícil que responder a qualquer questão sobre mim é saber que questão colocar. Quanto mais sei e considero do mundo mais me pareço insondável. Como que fechado para obras. Às vezes penso que não tenho sentimentos. Não tenho amor, parece. Fugiu-se-me. A aridez com que me vejo transforma-me num exilado do mundo. Momentos como este, com vocês, parecem excepções. Mas a intensidade que me toma e me expande o corpo, é vida, é amor. É isto que me define, o contacto, a festa, a comunhão. Consigo, e acredito, sempre consegui, captar o fluxo das conversas como quem desvia um rio para fazer rodar uma mó. Contrario, ainda assim, a ideia do número. Não é o número que apazigua. Por vezes posso rodear-me de multidões para me isolar, e na companhia dum livro posso sentir-me sufocado de atenção e interpelações. Assim como me posso sentir feliz num funeral, também posso sentir o contrário na minha festa de anos. O nosso saco emotivo tem furos e uma relação distante com a realidade. Agora que sentado e acomodado me sinto amenizado com este texto que antes de existir me açoitava, lembro-me da fenilalanina das pastilhas para perceber que não é o texto que está a resultar mas o meu saco emotivo que se virou. E se noutros textos as frases longas me amarguraram, parecem agora atrair-me. Faltam frases compridas à minha vida, com vírgulas tão subtis quanto necessárias, com palavras tão extensas quanto as minhas certezas. Continuando sem saber que questão colocar, pergunto-me o essencial. O que quero eu? O Como não é importante, para lá caminho. A resposta tenho-a aqui, como sempre tive. Dentro do bolso. Quero ter sempre dúvidas. Quero uma mulher que me agarre como quem vai cair. Quero ter filhos para lhes ensinar a aprender.

Nuno Gomes, 19 do gélido Dezembro de 2006

BLOGADO ?S 03:59:27

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