Como falei aqui e aqui, o Maus Hábitos acolheu a festa mais fixe de todo o sempre, o GZ em Trânsito. Eu fui, bombei até acabar a cerveja e foi uma boleia que me resgatou de uma ressaca debaixo da ponte. Na altura escrevi um textozinho a introduzir os galegos aos portugueses, enquanto que o camarada Maragoto fez o oposto. O resultado foi o seguinte:
¿Galiza quê?
dissabores e desconfortos de uma separação por mútuo acordo
A relação entre a Galiza e o Norte de Portugal é milenar. Juntos já fomos um reino, e o que somos agora? Regiões controladas por capitais distantes, zonas atrasadas que teimam em sonhar baixo. É óbvio que não existe para os portugueses a noção clara de galego e de Galiza. Normalmente, uma é sinónimo de espanhol e a outra? bem, um pedaço de Espanha. Aquilo lá para cima? Onde é Santiago? Exactamente!, prezado concorrente. A Galiza é uma Região Autónoma do Estado Espanhol, onde se fala galego em casa e castelhano no emprego. Ou galego no campo e castelhano na cidade. Se insistirem em falar sempre em galego, teremos sérias possibilidades de nos reencontrarmos no futuro. Afinal o galego não é o galaico-português, língua atrasada que já foi a nossa, mas, verdadeiramente, língua-nossa. Não é menos português o que se fala no Brasil que o que se fala no noroeste peninsular, e será essa talvez a grande cisma a derrubar. Existem galegos que, conscientes desta realidade, lutam no dia-a-dia para se limparem dos castelhanismos. Muitos fazem-no com a aproximação a Portugal. É bem. Já dizia Castelao, quanto mais português, mais galego. A história não pode ser reescrita. É verdade. Mas quem te disse que a história já acabou?
Algumhas dicas para voltar de bom génio de Portugal
Em geral, os galegos e as galegas temos umha ideia preconcebida do que é Portugal, e até ficamos surpreendidos quando, à inversa, colidimos com um desconhecimento voluntário do que nós somos. Só isto poderia servir para explicar o pouco que verdadeiramente sabemos da realidade do país que o galeguismo deu a conhecer como ?irmao?. Na Galiza e Portugal, nom falamos exactamente igual. Quando vamos a Portugal costumamos evitar castelhanismos que sabemos alheios ao próprio galego. Nom dizemos bueno, vale e até sesseamos. Bem feito, mas isto nom se deve tornar numha obsessom. Depois de oito séculos separados, nom devíamos dramatizar porque surjam problemas de intercompreensom. Se nom perceberes algumha cousa, pregunta, e expressa-te com naturalidade: o importante é comunicar e nom como se comunica. Tentar limar aquelas asperezas que estorvam a comunicaçom nom quer dizer que devamos ignorar que elas existem, disfarçando-as ao menor contacto. Portugal é um estado soberano. Sabemos isso, mas poucas vezes o interiorizamos e comportamo-nos como se fosse mais umha Comunidade Autónoma espanhola, pretendendo que do primeiro ao último português entenda as nossas inquietaçons lingüísticas e culturais ou os nossos problemas ?nacionais?. Por essa razom, chegamos a manifestar-nos incómodos porque em Portugal ouçam demasiada música espanhola ou estejam mais a par da cultura anglo-saxónica do que da sua própria, dando liçons sobre o combate a um imperialismo do qual eles nunca tinham ouvido falar. Afinal, nom se trata de conhecer portugueses e portuguesas da Galiza, mas de Portugal.'
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