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        Ciclo cineclube:negrX

        Ciclo cineclube:negrX

        05-11-19

        Esta sexta-feira dia 8 de novembro às 21h30 Assassino de Ovelhas.

        Ciclo cineclube Mádia Leva. NegrX

        Os textos canónicos que se ocupam da história do cinema, aqueles que instituem como única verdade o relato construído desde umha posiçom de poder, e que imponhem o seu próprio critério sobre os outros, atribuem o nascimento do cinema como expressom artística ao Nascimento dumha Naçom dirigido por D.W. Griffith em 1914, um filme abominável que fazia apologia do Ku Kux Klan e o linchamento aos negros despregando grandes recursos técnicos. O filme debutou aliás, com grande sucesso, o público branco saia das salas de projeçom tam entusiasmado que se organizava em grupos para espancar no primeiro preto que tropeçasse neles, e o Ku Kux Klan saia da marginalidade multiplicando simpatias e adesons enquanto o filme se popularizava. Griffith, aliás sem pretendé-lo, foi um pioneiro no uso da técnica do ?blackface? no cinema: atores brancos maquilhavam a cara de negro para representar todos os estereótipos degradantes e racistas da américa branca. É dizemos sem pretendé-lo, porque Griffith realmente desejava que os negros espancados na ficçom fossem negros reais como correspondia ao primeiro filme que rachava com as convençons teatrais, porém, para Griffith nom foi tarefa fácil atopar intérpretes negros dispostos para serem linchados polos héroes nacionais do KKK. Os negros que desejava Griffith para o seu filme organizavam-se em grupos para sabotar nas salas de projecçom a estreia comercial do primeiro filme moderno.
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        Mas nom todo é linchamento e espancamento de negros na industria americana do cinema, nos anos 50 e 60 aparece a respeitabilidade negra encarnada no ator Sidney Poitier,
        protagonista dalguns filmes de sucesso do Hollywood mais progressista, onde o ator negro compete em educaçom e elegância com as grandes estrelas brancas. O blackface foi desterrado do cinema, mas agora é o negro que se pinta de branco assumindo os seus modais, os seus valores, os seus gostos... As personagens de Sidney Poitier aparecem chegadas da nada, sem história, cumha linguagem neutra, sem marcas que o descubram como o descendente dos escravos de campo ou como habitante do gueto; para um determinado cinema a cor do protagonista deixa de ser importante enquanto a trama e o mundo que a sostém se mantenha bem branco. .
        Contra umha leitura e a outra, levantou-se nos anos 70 o movimento L.A. Rebellion, conformado por cineastas e críticos negros organizados na tarefa de combater na teoria a narrativa hegemónica da história do cinema, e de construir filmes que representassem a realidade negra desde a sua experiência, ensaiando, a sua vez, com novas formas narrativas e tirando o máximo proveito dos precários recursos dos que dispunham. Os L.A. Rebellion fórom militantes do cinema, os seus filmes nom tivérom distribuiçom comercial e as projeçons, além dalgum passe esporádico em salas de arte e ensaio, passavam-se nos lugares de rodagem, em bairros e guetos onde a participaçom ativa da comunidade fazia possível a elaboraçom destes filmes. Killer of sheep de Charles Burnett pertence a este movimento, rodada no gueto angelino de Watts em finais dos 70, tornaria-se o filme mais célebre do coletivo, e a sua exclussom dos cânones cinematográficos e os seus filmes seletos, confirma o racismo intrínseco da indústria cinematográfica.
        Em finais de 80 o cinema afro americano irrompe finalmente na indústria da mao de Spike Lee, e fai-no como umha bomba na praça do mercado do cinema. Fai a cousa certa de Spike Lee, chegou em forma de revolta, envolto em lume, cavalgando sobre o ritmo frenético do fight the power dos Public Enemy. No cineclube Mádia Leva revisitamos este clássico que agitou as consciências desde dentro do monstro, Do the Right Thing.
        Na sessom especial aproximaremo-nos ao partido dos Panteras Negras da mao de Agnés Varda com a projecçom de Black Phanters de 1968, um retrato dos panteras a partir das entrevistas e os documentos filmados durante as mobilizaçons pola liberaçom de Huey P. Newton, um dos fundadores do partido, acusado polos EEUU do assassinato dum polícia. A projeçom deste documentário quer ser também a nossa homenagem para com a grande diretora francesa, falecida recentemente, da que nos confessamos devotos neste cineclube.

        Assassino de Ovelhas

        O combate dos diretores negros organizados no movimento L.A. Rebellion, nom se dirigia apenas contra os conteúdos manifestamente racistas do cinema da indústria, a sua crítica abordavatambém a própria organizaçom e produçom da indústria cinematográfica e a exclusom da comunidade negra em todo o processo, assim como a linguagem fílmica e as técnicas narrativas onde o racismo aparece naturalizado na construçom dos discursos dominantes. O L.A. Rebellion, rechaçava por tanto, o modelo integracionista, representado na figura de Sidney Poitier, como possibilidade para incrementar a participaçom da comunidade negra na industria do cinema. Do mesmo modo que o cinema feminista dos 70, os L.A. Rebellion achavam que para representar a comunidade negra deviam ensaiar novas formas e explorar novos caminhos nas margens dos modelos que oferecia o cinema convencional. Nom é por acaso que tanto no cinema militante feminista como no negro coincidissem, ao mesmo tempo, umha liberdade criativa e individual compatível com a assunçom de temáticas excluídas do cinema comercial como as exprimidas pola escritora feminista Ann Kaplan: ?a reflexom sobre a relaçom entre indivíduo e comunidade, o autoquestionamento, a interrogaçom sobre a própria identidade em desavença ou oposiçom aos conteúdos da ordem simbólica patriarcal?, também da ordem simbólica racista completaria Charles Burnett, autor de Killer of sheep, filme que contém todos os elementos que cita Kaplan.
        Assassino de ovelhas é um filme de ficçom documental, Burnett documenta a vida diária no bairro onde se criou, seguindo os centos de crianças que jogam entre os prédios ruinosos e os descampados cubertos de entulho do guetto angelino de Watts e intercala-os com imagens do trabalho num matadoiro de ovelhas. Entre umhas imagens e as outras desenvolve-se no filme umha mínima trama que tem por protagonista um operário negro dum matadoiro de ovelhas sumido na depressom. Stan é o único negro com trabalho da vizinhança, ele reivindica a sua posiçom, ?eu nom som pobre, umha vez figem umha aportaçom para a beneficência e os pobres nom fam isso?, mas Stan é incapaz de conciliar o sono, sofre de impotência e nom consegue desembaraçar-se do seu trabalho no seu tempo livre. Stan quer tirar a sua família do gueto, mas o gueto está dentro dele como também o está o negro do campo que foi algumha vez, assim, quando o seu filho chama pola sua ?maezinha querida?, Stan censura-o com raiva, ?já nom estamos na aldeia, nom podes chamar assi a tua mae?. No entanto,
        Burnett nom quer falar por boca do seu protagonista, as contradiçons da atribulada personagem de Stan nom se resolvem no filme por arte de magia; antes de mais Burnett coloca a sua câmara para documentar corpos e gestos e o modo em que se relacionam num determinado espaço, que neste caso é o gueto negro de Watts, aproximando-se a umha realidade que foge à sua representaçom estereotipada do mesmo modo que Passolini filmou a vida suburbana dos arrabaldes de Roma, ou como certos filmes feministas que deliberadamente recusam empregar umha narrativa discursiva. Nom por acaso, enquanto Stan parece sucumbir à certeza de os negros nom terem nengumha espectativa de futuro nos EEUU, as mulheres do filme reagem com firmeza perante o tempo que lhes tocou viver:
        nenas que dam pontapés no cu dum neno que as molesta, mulheres que abroncam a gangsters por corromper a coesom da comunidade, ou raparigas que batem com o joelho na cabeça dum baboso.
        Burnett, como negro do gueto que era, também nom tinha expectativa algumha no futuro do seu filme; decidiu introduzir músicas cujos direitos de autor nom alcançaria a pagar nunca renunciando, de antemao, à possibilidade de distribuiçom comercial, trabalhou com atores nom profissionais que eram basicamente moradores do gueto, e demorou três anos em construir um filme com os médios mais precários ao seu alcance. No entanto, poucos filmes podem orgulhar-se da associaçom entre a descripçom nua do real com a intensa pulsom poética que palpita em Killer of sheep. Charles Burnett nom lhe deve nada a D.W, Grifith.

        Seguintes filmes do ciclo

        dia 22 de novembro Fai a cousa certa
        dia 13 de dezembro Panteras negras

        Escrito ?s 20:08:00 nas castegorias: album
        por SCMadiaLeva   , 1358 palavras, 72 views     Chuza!

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