crónicas no comboio

18-08-2005

INSTANTÂNEOS, CADERNOS

crónicas no comboio

Se estes são os gajos que emigraram, nem imagino a má imagem que terão de nós lá fora.

O olhar do velho perscuta o subúrbio, a ramada a cercar a casa de tijolo rebocado. Lacrimejam bondade, estes olhos. Quedos. Mas atentos, como os de um miúdo, veêm todos os pormenores, todas as variações. Só já não brincam, os olhos. Só observam, já viram tudo isto antes.

O comboio atulhado de avéques, e já ali, apenas dois lugares à frente, duas francesinhas de viagem. Será que elas sabem que 70% da carruagem lava sanitas e serve à mesa na terra delas? Imagino-as lá na france, e um pica português a dizer-lhes, delicadamente, 'Pardonnez-moi, demoiselles, mas fazem o favor de não pôr o caralho dos pés na cadeira, fodasse!'

Num curto espaço de tempo, em menos de um ano, li três livros sobre New York. Não eram livros com um ou outro episódio lá, ou remotamente relacionados com a cidade. Eram mesmo três livros sobre a cidade. O primeiro que li era bd, o espesso volume de At The Shadow Of No Towers, de Art Spiegelman, e tratava directamente a reacção dos nova-iorquinos (nos quais se inclui o autor) à queda das torres gémeas. Mais do que tratar essa tragédia, fala sobre a sensação de ausência que se seguiu, e que foi sendo gradualmente ocupada pela propaganda xenófoba e militarista. Delirious NY, de Rem Koolhaas, conta a história da cidade, e transforma-se no seu manifesto e guia teórico, quase suplantando a cidade em si. The NY Trilogy, de Paul Auster, ainda não acabei. São três histórias de detectives passadas em NY, com um protagonista masculino. Começam todas com um telefonema.
Isto não nasceu de qualquer desejo de NY. Foi o nome dos escritores que me puxou, e mesmo agora, depois de quase acabar o último, continuo sem qualquer fascínio específico pela cidade. O que me leva a querer ir lá, a querer estar em NY, é o fascínio que esta parece despertar nos outros. Será contangiante?

BLOGADO ?S 19:25:04

2 comentários

Comentário de: mfc [Visitante]
mfc

Viaja-se por gosto, viaja-se para se conhecer, viaja-se para se poder também sonhar.

18-08-2005 @ 20:45
João Lacá Martins

Partilhamos a ideia acerca dos emigrantes… se eles são a nossa imagem no exterior, então estamos bem tramados!

19-08-2005 @ 20:54
blog soft